terça-feira, 27 de novembro de 2007

Comprar compulsivamente é doença e tem nome: Oniomania



O fácil acesso aos meios de comunicação, principal divulgador da ideologia de consumo, produz cada vez mais jovens consumistas

Mateus Constantino
Vivian Garcia

Lá está ela olhando aquela vitrine com olhos brilhantes e respiração ofegante, o desejo pela compra torna-se algo incontrolável. Surge uma necessidade descabida, uma vontade involuntária, não se dá importância ao produto, mas sim, o ato de comprar. Gastar compulsivamente é sinal de doença, a oniomania, caracterizada pelo desequilíbrio que o indivíduo tem em controlar o impulso de comprar.
“Esse tipo de consumo pode ser considerado como um transtorno compulsivo obsessivo quando ele passa a trazer malefícios ao indivíduo, como por exemplo, deixar de comprar os bens úteis para comprar bens que sejam desnecessários”, afirma a psicóloga Tatiana Beneduzzi.
“Quando quero alguma coisa não paro pra pensar se é realmente necessário ou não, apenas quero”, diz a auxiliar de marketing Ana Carla Pereira Alves.
De acordo com a psicóloga Tatiana Zambrano Filomenski, membro do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso da USP, Universidade de São Paulo (AMJO - USP), em entrevista ao site delas.ig.com, um conjunto de fatores determinam o aparecimento da doença “o fator principal é genético, que leva o indivíduo a ter uma pré-disposição para desenvolver este tipo de doença. O segundo fator, não menos importante, é o ambiente familiar, que proporciona a apreensão de determinados valores, como o papel do dinheiro na família. A personalidade aparece como o terceiro fator, quem desenvolve a síndrome revela baixa auto-estima e identidade frágil. Como quarto fator temos a cultura na qual o indivíduo está inserido: nossa cultura, por exemplo, estimula o consumo e a posse de bens”, explica.
“Acoplado a todos estes fatores, precisamos de um fator ‘estressor’, algo que acontece na vida da pessoa e que desencadeia este comportamento de comprar compulsivamente”, acrescenta a psicóloga Tatiana.
A idade média para o início da doença é aos 18 anos, porém só é percebida como problemática dez anos mais tarde. De acordo com a socióloga Cláudia Regina Benedetti a juventude tem um acesso muito fácil aos meios de comunicação, principal divulgador da ideologia de consumo. “Há três gerações não tínhamos TV, vídeo cassete, DVD, computador pessoal, internet, MP3, MP4, celulares, sendo assim o acesso ao consumo era limitado à oferta in loco, hoje o consumo ultrapassa as barreiras das prateleiras das lojas e dos supermercados, ele se perpetua em nossa vida cotidiana, ao fazermos uma chamada pelo celular, ao ligarmos a TV, ao ouvirmos uma música, por isso vivemos em uma sociedade do consumo que produz, necessariamente, jovens consumistas que alimentam o capital”, ressalta a socióloga.
“Pra mim, consumir é uma sensação maravilhosa, não tem explicação, um verdadeiro prazer”, diz Ana Carla.
Segundo Cláudia, o processo de sedução ganha corpo na medida em que as pessoas são herdeiras de um processo histórico e ideológico que valoriza a individualização, e nesse padrão, elas só se destacam individualmente por meio daquilo que consomem, já que estes objetos de consumo determinam a posição social. “Se para um servo da Idade Média, sua posição estava condicionada ao nascimento, para os indivíduos da modernidade (nós), esta posição se constrói pelos bens que podemos consumir, e a indústria aproveita essa perspectiva para criar novas necessidades de consumo”, finaliza Cláudia.
Para auxiliar pessoas que sofrem da Oniomania foi criado um grupo conhecido como Devedores Anônimos (D.A.), com o propósito de ensinar seus membros a reaprender a lidar com o dinheiro. O grupo foi criado em abril de 1997 e tem como base a proposta dos Devedores Anônimos norte-americano, fundado nos Estados Unidos em 1968, e europeu. O grupo presta serviços em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Ceará. Os encontros são semanais e duram, em média duas horas. Nas reuniões o consumidor ou devedor compulsivo encontra o conforto e a possibilidade de desabafar com outros que sofrem da mesma doença.

Um comentário:

adri disse...

tenho essa doença as vezes eu roubo o cartão de credito do meu marido pra gasta.. compro sem parar quando chego em casa vejo que não precisava de tal coisa mais se eu não comprar mi sinto muito mal. meu marido sem saber oque fazer comigo ja cortou todos os meus recursos de gastar.